Artigo de Rafael Greca
Triste o abandono da capital do Paraná nesta gestão Fruet, completamente infrutífera. Antes Cidade Sorriso, musa, modelo inoxidável, hoje Curitiba inspira cuidados. Apresenta-se corroída, infectada, tristonha, infrutífera.
Felizes apenas os ratos desfilando no gramado da Praça Tiradentes em plena luz do dia, em foto de Daniel Donadelo feita na tarde de 12 de outubro de 2015.
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Nos últimos nove dias, observamos espantados sinais de um tipo de peste urbana que piorou e continua a piorar a qualidade de vida dos curitibanos: 1) no dia 5 de outubro um curitibano tombou morto por causa de um buraco no Xaxim; 2) no dia 9 de outubro uma curitibana tombou abatida por um poste de ferro enferrujado que desabou no calçadão da rua XV.
O curitibano tinha 47 anos, Milton Ferreira de Oliveira, voou 40 metros depois de cair em um buraco de uma ciclovia mal feita e em seguida topar em elevação no asfalto derramado, não espalhado pela Prefeitura.
Fui conferir o serviço « executado » no local, como sempre faço, e constatei o recapeamento inadequado do pavimento, um pseudo-asfalto betuminoso borrifado.
Como sempre alertei: um buraco pode matar uma pessoa, então, «cuidar das pessoas » é tapar corretamente os buracos, pois um asfalto mal-feito mata.
A curitibana, 59 anos, Maria Ferreira Ribas, estava no intervalo do almoço, e por pouco não perdeu a vida lá na esquina da XV com João Negrão; sofreu traumatismo craniano, encontra-se internada no pronto socorro do Hospital Evangélico com traumatismo craniano, em estado que inspira cuidados.
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Percorri o calçadão da XV, onde instalei os postes de ferro fundido em comemoração aos 300 anos de Curitiba. Vi ferrugem e corrosão em vários deles. Passei também pelo bondinho da rua das Flores, utilizado para biblioteca infantil, mais ferrugem.
Assim como um buraco, um poste corroído pode matar uma pessoa, e uma peça enferrujada pode provocar tétano. Então, “cuidar das pessoas” é conservar as estruturas de ferro, pintando-as com zarcão anticorrosivo, revisando sua integridade, substituindo as enferrujadas.
Visitei no dia 6 de outubro, uma terça-feira, a praça Liberdade no Bairro Alto que fundei. Constatei que um vestiário para atletas, que fiz na rua Jari com avenida da Integração, não existe mais. Ruiu por abandono.
Uma casa em ruínas, além de virar mocó de malfeitores, pode também pode matar, desabar sobre as pessoas ou pegar fogo — como a tragédia que reduziu à cinzas a Casa de Portugal, casarão histórico da Paula Gomes com Duque de Caxias. Então, “cuidar das pessoas” é evitar a ruína dos prédios públicos, preservando-lhes a estrutura, a utilidade e a beleza.
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Recebi pelo Facebook, no dia 10 de outubro, fotos da irresponsável corrosão das grades guarda-corpo no mirante do Parque Tanguá sobre a mata ciliar do rio Barigui, feitas pelo contribuinte Giovanni Ferrari Bertoldi, que levou turistas que hospeda para conhecer nosso parque. Só os milagres que acontecem explicam como alguém ainda não caiu no vão do belvedere ou no precipício da antiga pedreira da família Gava. O curitibano estava envergonhado e indignado com a imagem da falta de manutenção dos equipamentos de uma prefeitura que já foi exemplar. Restou-me fazer a promessa de denunciar o descalabro.
Assim como um buraco, um poste, uma edificação, uma grade de proteção enferrujada também pode matar um numeroso grupo de pessoas. Então “cuidar das pessoas” é conservar o equipamento de proteção de nossas apreciadas atrações turísticas e de lazer, como o meu Parque Tanguá. E digo meu, porque antes de ser de todos os curitibanos existiu como filho na minha imaginação, mais um filho que criei.
Abro na manhã de terça, 13, abro a Gazeta do Povo, e leio a manchete: “MP costura acordo para Curitiba não terminar 2016 com 300 ônibus velhos em circulação.” No corpo da matéria, leio: 15% da frota total é de ônibus fabricados antes de 2005, que oferecem risco à população; e o impasse entre o prefs (sem feito) Fruet e as empresas de transporte coletivo alargam a rota do colapso anunciado.
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Pessoas podem morrer quando ônibus pegam fogo, perdem freios, e descontrolados invadem calçadas. Como aconteceu em 10 de junho de 2010 nos tempos do prefeito Ducci com o Ligeirinho Colombo-CIC na praça Tiradentes, que avançou sobre a calçada das Casas Pernambucanas, feriu 32 curitibanos, e matou Edson Pereira da Silva, de 55 anos, e Carlos Alberto Fernandes Brantes, de 63 anos.
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Não bastassem estas imagens, fui à missa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, na última segunda-feira, 12 de outubro, e vi animais passeando no gramado da Praça Tiradentes. Me perguntei, seriam catinguelês, ouriços lapiseiros, pequenos filhotes da fauna nativa destes pinhais, ou capivaras risonhas? Não! Novo espanto, eram ratos em convescote. Pedi ao arquiteto Daniel Donadello que fotografasse a cena pré-bubônica, cena da peste negra das cidades medievais. E postei nas redes sociais. O contribuinte Alexandre Cordeirovski Tod comentou:
“Sou morador a 10 anos na praça. A porta do meu prédio é um mictório público. O tráfico de drogas acontece impune de manhã, tarde, noite e madruga na lateral da igreja, ruas José Bonifácio e Saldanha Marinho. A escada da catedral fede a dejetos, e os jardins públicos estão cheios de lixo.”
Ratos, animais e pessoas abandonadas nas ruas, também podem matar: seja por peste bubônica ou peste negra ou raiva; seja por ataques latrocidas devido o círculo vicioso do tráfico de crack.
Então, “cuidar das pessoas”, é também desratizar a cidade, vacinar animais e impedir o abandono. Acolher, alimentar, abrigar e resgatar pessoas em situação de rua — serviço social não pode ser reduzido à entrega de um miserável cobertor.
Resta-nos perguntar até quando? Até quando nosso verde vai ceder espaço para a ferrugem? Os fatos estão aí. Há ferrugem no postes da XV; ferrugem no bondinho das Flores; ferrugem nas grades de proteção no parque Tanguá; e ferrugem também em 300 ônibus velhos ainda em circulação, segundo providencial ação do Ministério Público.
Assim está Curitiba, mas isso não é a nossa Curitiba. Curitiba enferrujou? Nunca, jamais. Curitiba é uma cidade verde e inovadora, cor da renovação permanente.
O que acontece é que não dá para separar gente, cidade e prefeitura. Quando a prefeitura vai bem, a cidade funciona e o povo se alegra. Quando a prefeitura vai mal, a cidade enferruja e o povo paga com a vida, com tétano ou com tristeza.
Como não faço política do lado da turma do quanto-pior-melhor, aconselho a aplicação imediata da tinta Zarcão Pró-Ferro nas grades e postes de ferro. A tinta de secagem rápida é usada desde 1889 na Torre Eiffel pela prefeitura de Paris; desde 1937 na ponte Golden Gate pela prefeitura de São Francisco; e desde 1780 nas grades e postes de Trafalgar Square e Buckingham Mall pela prefeitura de Londres.
Curitiba inspira cuidados. E suspira pelo tempo perdido. Não é de hoje piorado. Interesses políticos e econômicos alheios à boa história de Curitiba nos infelicitam. Os poderosos da ocasião têm culpa no cartório. Fizeram casórios políticos contraproducentes, que nada produziram. Ficaram nas apostas altas, perderam as fichas e perderam o tempo, o nosso tempo.
Mas insisto, persisto e resisto na fé absoluta em minha cidade. Curitiba é a melhor cidade brasileira que existe. E tudo que queremos é ser felizes onde nós nascemos e nos criamos, crescemos e fizemos crescer melhor e mais bela do que a cidade que recebemos de nossos pais. Há de ser possível acabar este tempo ruim, esta época infeliz. É tempo de nova mobilização. Curitibanos mobilizados, vamos andar ao sol da alegria mais uma vez!